sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tac-Tic


O tempo está ao contrário. Ao contrário não em relação a ele mesmo, mas em relação a certos seres pensantes. Aquele tempo, o qual se pode cronometrar no visor de um relógio, fora criado para favorecer o homem. Atualmente, o homem é quem se cria a favor dele. De fato, o problema não está no visor digital ou de ponteiros, mas sim naquele ser que o carrega.

Causador de grande estresse e do aumento de psicólogos no mundo, o tempo hoje em dia tornou-se um certo martírio. A humanidade passou a ser engolida por ele, isso pelo fato dela tentar ser mais rápida. A quantidade de informações e acontecimentos nas últimas décadas se tornaram gigantes e muito mais aceleradas. A partir do momento em que o homem decidiu seguir tal ritmo ele começou a entrar em colapso.

Tentar domar algo maior e mais poderoso que sim mesmo nunca foi boa ideia. Contudo, os homens também nunca gostaram de seguir regras. Como bons trabalhadores de um mundo sofredor de diária metamorfose, as pessoas de hoje se sobrecarregam com inúmeras tarefas e trabalhos, reclamando depois que o tempo é curto.

O relógio não mudou, a rotação da Terra muito menos. Se o tempo parece impossível de se dominar, é porque as pessoas andam fazendo coisas demais. Ele é sempre o culpado, mas talvez os cérebros é que estejam superlotados de coisas tão úteis, a ponto de não lhes servirem para nada. Esvaziar a mente de vez em quando e diminuir a carga de trabalho sempre fazem bem a seres pensantes. E eles depois dirão o quão maior tornou-se o tempo.

Gabriela Pedroso

Formiga de Virtudes


O homem começou a conversar comigo, perguntando como eu estava e sorrindo com sua pele rachada, porém contente. Em uma de suas mãos ele carregava um pedaço de isopor, o qual continha várias esculturas como grilos, formigas, aranhas e um único homem, segurando argolas. Os grilos eram feitos de folhas verdes compridas, que ele dobrava e de algum jeito chegava aquele formato. As aranhas, formigas e o homem eram feitos de arames flexíveis, alguns cor de bronze, outros pratas.

Ainda com seu sorriso no rosto, ele, ao me ver sorrir de volta e respondê-lo com um aceno de cabeça, disse que estava encantado com a minha simpatia, pois a maioria das pessoas simplesmente o ignorava, torcendo o nariz e seguindo em frente. Eu finalmente parei, lhe dando real atenção, mesmo estando ainda um tanto incerta se deveria fazê-lo.

O homem acenou para uma de suas pequenas esculturas no isopor e me perguntou se poderia reconhecê-la. Eu disse que era uma formiga. Com minha resposta ele ficou ainda mais radiante, pegando-a e gesticulando com a pequena formiga de bronze e prata na mão enquanto falava. Contou-me que o ato de presentear alguém com uma réplica de uma formiga representa três virtudes: sabedoria, simplicidade e humildade. As duas primeiras por perceber que existem pequenas, porem importantes coisas por debaixo daquelas grandes e superficiais. Já a última era pelo simples fato das formigas se “cumprimentarem” ao se encontrarem, coisa rara de se ver hoje em dia nos humanos. O normal é que as pessoas passem por você e nem ao menos te dividam um sorriso.

Gabriela Pedroso